batendo pasto

de Maria Lúcia Alvim

Relicário - 2020

Esse batendo pasto me impressionou. Me lembrou o Alberto Caeiro de Fernando Pessoa (e espero que não me julguem os mais letrados, são impressões de leitora) só que com outra graça e agudeza. Outra sensibilidade, outra sutileza. Por ter sido escrito por uma mulher? Talvez.

Alguns versos:

"ó ser astral

o capim é minha grande reserva interior"

"meus olhos são como dois bacorinhos

feridos de morte"

"curral

é onde o real

passa por cima"

Maria Lúcia Alvim nasceu em Araxá, Minas Gerais, em 1932. Até 1980 tinha publicado 5 livros de poesia, e desde então não foi mais publicada. Batendo pasto é de 1982, e ganhou essa edição caprichadíssima da Relicário em 2020, enriquecida por escritos sobre a edição que se tem em mãos, bem como sobre a escritora e sua obra. Ela faleceu em fevereiro de 2021, aos 88 anos, por complicações decorrentes da COVID-19.

Batendo pasto recebeu o prêmio Jabuti em 2021.

Bonito que a poesia de Maria Lúcia Alvim chegue a nós ainda que com atraso - e nos faça pensar, mais uma vez, nos silêncios e esquecimentos sobre a escrita de mulheres.

Publicada em março de 2021, no Instagram.