Controle
- marietamadeira
- 30 de mar. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 7 de jun. de 2023
de Natalia Borges Polesso
Companhia das Letras - 2019

Uma aposta de corrida de bicicleta, quatro amigos chegando na adolescência. As músicas de New Order que se misturam ao texto, a amizade de duas amigas que se mistura com amor. Acidente, crise epilética, interrupção no ritmo dos dias, no ritmo da vida, na vida. Descontrole. “Controle”, a palavra perfeita para designar o que se torna tão efêmero quanto impossível.
"Distúrbio cerebral. Condição neurológica. Alteração na consciência. Crise tônico-clônica. Crise de ausência. Excesso de atividade cerebral. Tempestade de ideias. Descontrole. Implosão. Uma coisa que vem de dentro. A maior parte das palavras escorria para fora dos meus ouvidos, mas algo ficava cada vez mais claro: aquilo era uma condição.
- E como você se sente, Maria Fernanda?
Eu nem soube responder. Fiquei tanto tempo calada. Nunca tinha me dado conta de que poderia falar sobre aquilo, sobre aquelas coisas que eu sentia. Como eu estava? Como eu estava? Como eu estava?"
Como se sente alguém que passa por essa experiência? E as pessoas ao seu redor? E ao entrar na adolescência? E ao se descobrir lésbica? São tantos os temas preciosos que a Natalia Polesso toca nesse romance! A leitura afeta por esses temas profundos, e também pelas metáforas que ela usa pra tocá-los, pela música que soa no ouvido, nos fones, na cabeça da Nanda, na cabeça da gente - quer a gente conheça New Order ou não. “Controle”, essa palavra. As palavras nos absorvem até o final, com a pergunta que insiste na nossa cabeça: como isso vai acabar? Afinal, o que será de Joana e de Nanda?
"Meus olhos se encheram de vento.
Eu queria rir e falar e cuspir palavras com tanta força que elas arrancariam os meus dentes ao passar."
Permitir que as páginas nos encham de vento. Que as palavras arranquem nossos dentes ao passar. Que as palavras nos arranquem do lugar onde lemos. Porque estamos lendo, mas sentimos o vento e cada palavra. Porque ler Controle é viver a efemeridade dele mesmo. À beira da palavra.
Publicada em novembro de 2021, no Instagram.
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