Copo Vazio
- marietamadeira
- 18 de mar. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 7 de jun. de 2023
de Natália Timermann
Editora Todavia, 2021

Querida Natália,
li, de ontem pra hoje, Copo Vazio. Confesso que ele me chegou há mais de mês, mas quando soube do que tratava a narrativa não tive coragem de abraçá-lo. Houve um dia que respirei fundo e comecei, mas não pude seguir.
Ontem, ao dar mais uma volta necessária no abandono recente que eu mesma vivi, percebi que era chegada a hora do mergulho. Em muitos momentos da leitura senti no peito o mesmo aperto que senti nos primeiros dias de vazio. Me identifiquei com Mirela nas tantas perguntas que tentam fazer borda no sofrimento, no imaginar os tantos "se", na rememoração do último encontro que eu não sabia ser o último. E eis que, quando Mirela fala da contagem do tempo, do número de dias desde que não via Pedro - que se transformaram em semanas, em meses - percebi que esqueci de uma das datas que eu mesma contava, triste. Aquele dia passou sem eu me dar conta. Alívio.
Lembrei de um pequeno poema que escrevi naqueles dias (naqueles - agora um pouco mais distantes):
Agarrada ao sofrimento
Como se fosse uma tábua
De salvação
(é só o que me resta de ti)
Tua escrita me devolveu uma parte de mim que andava perdida, porque nem eu talvez quisesse mais encontrar. Sou como muitas Mirelas que, mesmo sendo uma mulher x, y, z, como disseste, pode ser simplesmente abandonada por Pedros. Construímos, sim, castelos de areia que as ondas levam, implacáveis. Quem nunca? Escrevo assim para que outras Mirelas, como eu, possam se reconhecer no teu texto e se reencontrar. É sempre alentador saber que não estamos sozinhas, que a dor pode ser compartilhada, que faz eco, e que pode encontrar um outro caminho, quem sabe uma saída. Um (quase) fim. Como Mirela escreve a Pedro:
Já passou.
Já passou, acho.
Já passou o que é possível passar, porque tem coisas, entendi ao longo do tempo, que não passam nunca.
Os restos.
O amor envernizado pelo nunca.
Na dedicatória que escreveste no livro, expressaste um desejo para a leitura, para o meu encontro com esse copo vazio. Teu desejo se realizou: encontrei, no silêncio das tuas palavras, algo que fez muito sentido pra mim.
Te agradeço por isso.
Grande abraço,
Marieta
Publicada em março de 2021, no Instagram.
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